sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Presidente Marcelo

 Sem surpresa, Marcelo Rebelo de Sousa venceu as eleições presidenciais à primeira volta, com 52%, confirmando as sondagens dos últimos meses. Venceu o Marcelo comentador, porque o Marcelo candidato pouco apareceu. Marcelo engendrou na perfeição a sua estratégia eleitoral que consistia em falar o menos possível sobre as suas posições políticas e em afastar-se o mais possível dos líderes dos partidos que o "recomendavam". Em vez de aprofundar questões de interesse nacional, preferiu beijar idosas. Percebe-se: quanto menos posições tomasse, menor era o risco de afetar a sua consensualidade a nível nacional. E foi dessa maneira, engenhosa e quiçá perspicaz, que o Marcelo comentador, depois de uma ténue passagem como candidato, virou Marcelo Presidente.
 Contudo, a posição de Marcelo pode ser determinante para o retorno de uma política ideológica de centro direita moderado e social que desapareceu nos últimos anos, fruto da radicalização direitista comandada por Passos e Portas. Marcelo é do velhinho PSD, reformista e centrista, que até com Cavaco Silva na liderança (imagine-se) foi um dos grandes promotores do Estado Social. Este PSD antigo irrita a direita frenética como se viu em muitos críticas à campanha de Marcelo. Era bom que Marcelo ressuscitasse essa ala do PSD com que Pacheco Pereira sonha todas as noites.
 Em segundo lugar, ficou Sampaio da Nóvoa, com 22.89%,  que enrolado na trapalhada socialista, fez o possível. O PS estava pronto para apoiar o antigo reitor, todavia, com a entrada da militante socialista Maria de Belém e com medo de criar fissuras internas, o Partido Socialista desligou-se das presidenciais. Maria de Belém, a grande derrotada destas presidenciais, com uma campanha frouxa, com momentos bizarros - como quando sugeriu que os chefes de estados internacionais fossem almoçar a lares da terceira idade - e baseada no ataque pessoal, quer a Marcelo, quer a Nóvoa, acabou por desmotivar o centro e a ala esquerda moderada - as suas áreas alvo. A polémica das subvenções vitalícias foi a estocada final na sua campanha, acabando com 4.24%. Uma hecatombe presidencial.
 À sua frente, ficou a surpresa da noite. Marisa Matias ficou em terceiro lugar, num resultado histórico, conseguindo o melhor resultado de sempre de um candidato apoiado pelo Bloco de Esquerda, mostrando o empolgante momento que o Bloco vive no eleitorado.
 Muito à frente de Edgar Silva, naquele que era um dos duelos a acompanhar nessas eleições.  O candidato do PC, que não sabe se a Coreia do Norte é uma ditadura, num discurso baseado meramente na crítica pessoalizada obteve o pior resultado comunista de sempre nas presidenciais. Mais uma vez, o PC perdeu na luta com o Bloco. Categoricamente. Irritação e nervosismo no Comité Central.
No campeonato dos pequeninos, Tino de Rans foi a surpresa da noite com 3.28% dos votos, simbolizando o voto de protesto. Atrás dele ficou Paulo de Morais e ainda Henrique Neto que foi também uma das desilusões da campanha - se no inicio afigurava-se como o potencial outsider capaz de surpreender, acabou, em antepenúltimo lugar, com uns irrisórios 0.8% dos votos.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Notas sobre o ano findado - Internacional

 800 mil. Mais de 800 mil pessoas abandonaram o seu país para fugir à morte. É este número de refugiados que chegaram à Europa em 2015. Uma crise de refugiados que demonstrou a fragilidade do projecto europeu, mostrando uma Europa incapaz de formar uma política comum que dê resposta a este que é o maior fluxo migratório desde da Segunda Guerra Mundial.
 Um dos rostos mais visíveis destes refugiados são os provenientes do conflito sírio. A Síria está em Guerra Civil desde de 2011. Uma guerra que, apesar de civil, passou a ser um conflito internacional (fazendo lembrar os tempos da Guerra Fria com envolvimento de Rússia, EUA e outras nações) e com fortes motivos religiosos. A carga de carnificina brutalizou-se com o surgimento do auto denominado Estado Islâmico (daesh) no conflito, que vincou o choque entre xiitas e siitas e fez explodir número de refugiados. O ano fica marcado pelo daesh que se recheou de armas, angariou militantes pelo mundo, destruiu património e varreu a sangue milhares de pessoas. Penetrou na Europa e explodiu Paris duas vezes - atentados de Janeiro à redacção do Charlie Hebdo e os atentados de Novembro - deixando o mundo horrorizado. A Europa que ignorou durante anos o que se passava no oriente sofre agora as consequências: vive amedrontada pela ameaça terrorista. Daí surgem dois grandes problemas interligados entre si que urgem como derradeiros desafios para 2016: como combater o Estado Islâmico e encontrar resposta para os refugiados que vão eclodindo pela Europa.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Notas sobre o ano findando - Nacional

Foto Expresso
  Fechado 2015, sucede-se os balanços e fazem-se contas. De momentos e figuras.

 2015 fica marcado pela união dos partidos de esquerda para possibilitar um governo socialista. Por isso, António Costa é a grande figura do ano: mostrando uma exímia flexibilidade, fechou acordos com BE, PC e PEV, formou governo e obrigou Cavaco Silva a indigitá-lo, corrija-se "indicá-lo" como primeiro ministro. Fez história no sistema político português, fazendo com que a esquerda, acalmasse o seu ambiente natural de guerrilha, unindo-se em torno do objetivo comum de destronar a direita do poder. Costa teve assim a agilidade e a perspicácia necessária para transformar uma derrota histórica numa vitória inédita. E, ao contrário do que se previa, o PS não se transformou numa esquerda "radical" - como agora é designada- nem o BE e o PC perderam a identidade. Um dos desafios de 2016 é ver como António Costa continuará a fazer este 'esparguata' político - para já, conseguiu com que Passos Coelho voltasse atrás na palavra e votasse a seu favor na Assembleia, e que Paulo Portas anunciasse o seu abandono da liderança do CDS.

 Das eleições de Outubro, saiu também uma das figuras do ano de 2015 da política nacional: André Silva, líder do PAN. Numas eleições onde abundava a variedade, com uma avalanche de vários novos partidos formados por rostos conhecidos do eleitorado - como o Livre de Rui Tavares, o AG!R de Joana Amaral Dias, ou ainda o PDR de Marinho e Pinto - foi o Partido Pessoas-Animais-Natureza que conseguiu eleger um deputado, o seu líder, que alterou a fotografia da Assembleia da Republica que desde de 1999 retratava sempre os mesmos partidos.

 Da Madeira, veio também um dos destaques do ano. Alberto João Jardim despediu-se e Miguel Albuquerque sucedeu-o, vencendo as eleições regionais de Março com maioria absoluta. Desde aí, Albuquerque tem rompido com os traços marcantes do jardinismo que reinava na região desde 1978, mostrando um regime mais aberto e responsável.

Do quadro político açoriano, Vítor Fraga, no panorama regional, e Carlos César, no panorama nacional, são os grandes destaques de 2015. O primeiro, secretário regional dos Transportes, que até tem tido uma gestão muitas vezes pantanosa, foi o grande rosto por detrás pela liberalização do espaço aéreo açoriano, que permitiu a vinda das 'low cost' para São Miguel, fazendo disparar para valores históricos os números do turismo. Apesar das dos sanguinários debates entre partidos que chamam a si a responsabilização pela liberalização aérea, foi ele que, finalmente, permitiu que a galinha pusesse ovos de oiro, galvanizando toda a economia regional. O segundo, antigo presidente do governo regional e atual presidente do PS, tem vindo a subir a pulso no cenário político nacional. É o mais fiel súbdito de António Costa, fundamental na mecânica do funcionamento do governo enquanto líder parlamentar de um governo minoritário, sendo, agora, recompensado, com a eleição para conselheiro de estado.