terça-feira, 10 de novembro de 2015

Trocas e Baldrocas da Política Nacional



A democracia portuguesa está a viver momentos históricos. Históricos e radicais. Radicais no sentido expresso de um clara viragem à esquerda que destruiu o tradicional centrão político. E sim, esquerda - continuo sem compreender essa nova designação, viral desde da viralidade do Syriza, de esquerda radical ou extrema esquerda que a direita anuncia com tanta veemência.

Anuncia porque está revoltada. Tem motivos para isso, é certo, mas isso não transforma os seus gritos propagandísticos verdades. Denunciam jogadas de bastidores, golpes de estado ou que se trata de um regresso aos tempos do PREC. Nada disso: quer se goste ou não, trata-se, simplesmente, de uma dinâmica permitida pelo nosso regime. No semipresidencialismo o governo submete-se ao parlamento - daí o presidente da Assembleia da República ser considerado a segunda figura da nação- estando no poder parlamentar a possibilidade de rejeitar o governo.
Outra histeria da direita é a ligação dos revolucionários ao poder. Com comunistas e bloquistas, Portugal teria que rasgar os acordos que o ligam à União Europeia e à NATO, e /ou, na mais terrível das hipóteses, Jerónimo de Sousa, aliado a Costa, metamorfosear-se-ia em Estaline e transformava o nosso Portugal num estado Comunista. Provavelmente, até, aliado da Coreia do Norte. Calma. Em pleno 2015 este quadro fantástico não vai acontecer. Pelo menos com o PS a governar. Aliás, esta teoria remete para uma exclusividade do ato de governar, sendo preocupante pelo seu tom anti-democrático: não há partidos de primeira nem de segunda, logo o espaço politico é aberto a todas as forças politicas, quer seja aquelas que têm um quadro do senhor Lenine na sua sede, quer seja os que preferem uma moldura com a lady Thatcher. É neste sentido que o discurso elitista de Cavaco Silva é digno de um fanático partidário e não de um presidente da Republica.

 Ou seja, o que está aqui em causa não é a viragem à esquerda, nem muito menos a legitimidade democrática. O que está em causa é a legitimidade moral da tal frente esquerda em todos os sentidos.
 Em primeiro lugar, o nosso próximo primeiro ministro, por muitas interpretações eleitorais que possam existir, foi o grande derrotado das eleições de 4 de Outubro, chegando, ele próprio, a assumir a total responsabilidade pelo resultado eleitoral. E, apesar de tudo, António Costa nunca mostrou essa possibilidade esquerdista aos seus eleitores. Aliás, foi Jerónimo de Sousa ao demonstrar a sua disponibilidade para negociações, que obrigou o líder socialista a avançar para o acordo de esquerda. Pressão comunista que certamente deliciou o líder socialista que, além de salvar-se politicamente, ainda atinge a sua meta de vida: conquistar São Bento. Perfeito, não?
  Em segundo lugar, a atuação do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista, não só ao longo da campanha, como praticamente ao longo de toda a sua história, de constante ataque ao PS, que, agora, esfuma-se no espaço de dias. Durante a campanha eleitoral, notava-se em muitos casos, como no debate entre Jerónimo e Catarina, que o principal alvo dos dois não era Passos e Portas e a coligação, mas sim António Costa e o PS. O líder comunista classificou uma vez  PS e PSD como "farinha do mesmo saco" e a porta voz bloquista chegou a pedir que o PS anunciasse alguma coisa de esquerda para variar. Certo é que a moral na política é na grande maioria das vezes esquecida pelos números macroeconómicos e afins, mas o Bloco e o PCP vão ter de acabar de proclamar ao povo a sua diferença política, pois são agora mais um dos partidos do novo arco governativo. Porque tão ilegítimo do que a promessa de anti-austeridade de Passos Coelho em 2011 é a mudança de atitude em menos de um mês do Bloco e do PC.

Salve-se disto tudo, o momento histórico da abertura da nossa democracia, com o desmoronamento do tradicional arco da governação e com o fim dos partidos de mero protesto. Mau é que esta mudança histórica seja motivada por um ódio obsessivo e por uma insaciável fome de poder que emanou numa artificial unidade de esquerda que, afinal, acabará por não ter garantir a tão prometida e desejável estabilidade.

Escrito a 2/11/2015

Sem comentários:

Enviar um comentário